Das coisas que eu queria te contar.

Tem algumas coisas que ninguém te conta sobre o luto. Dizem que o tempo ameniza. Que a gente acostuma com ausência. Eu discordo, ou pelo menos venho aprendendo a discordar. Eu sempre achei que os dias mais importantes seriam os que mais sentiria sua falta, mas que grande balela.

Pois a saudade chegou me arrebentando o peito, justo em uma terça a tarde, quando me dei conta do quanto minha vida mudou e todas as coisas bonitas que vem acontecendo. A gente conversou baixinho e tenho certeza que você me ouviu, mas não pude ouvir sua resposta, por mais que tivesse absoluta certeza de todas as coisas bonitas que me falaria, obviamente, com um tanto de frases engraçadas e piadas que me deixariam brava com você por no mínimo uma hora.

Eu achava que a ausência nos mataria nas festas e eventos importantes, mas não à imaginava chegando de mansinho em um dia comum. Sem grande alardes e sem muitos acontecimentos. São muitas as partes do luto que ninguém te conta. É a saudade arrebatadora de beber um “aparadinho” acompanhado de toucinho do céu. É receber uma ligação num sábado a tarde, ouvindo um apelido carinhoso, confirmando o almoço de domingo.

Ah e por falar em apelido carinhoso. Ninguém vai te chamar igual. Dizem que existe um versão diferente de nós, para cada pessoa que nos conhece. Eu acho que quando alguém que amamos parte, precisamos lidar com a perda de quem se foi, e com a perda de quem nos éramos para essa pessoa. E talvez essa seja a parte mais difícil, pois uma versão de nós mesmos, simplesmente evapora, deixa de existir.

Alguns dias, nessas noites de insônia, abro as conversas arquivadas, só pra ouvir tua voz, rir das tuas piadas e acabar chorando baixinho, pensando, bem, é isso, acabou. O problema é o que a gente faz com o que fica? Eu sei que a vida tem que seguir, que as coisas entram nos trilhos, mas é só isso? Vamos juntando nossos caquinhos e seguindo em frente, mesmo com mil pedaços faltando?

É uma real saudade das coisas que não foram vividas. Dos projetos que ficaram incompletos. Tudo que ficou pra ser dito depois. Do que café que foi desmarcado porque gostaria de estar com a casa pronta. Da reunião de domingo que faltei por briguinhas bobas. De tudo que ficou pela metade e das metades que nunca mais serão completas.

Bem, apesar dos pesares, a partida me ensinou coisas bonitas. Entendi a real importância de tantas coisas. Aprendi que eu sou o personagem principal dessa coisa que chamamos de vida e que ela é curta demais. Estamos aqui emprestados para viver um intervalo. Por isso não perco mais meu tempo com bobagens e julgamentos.

Talvez nem todo mundo vá gostar da minha versão daqui pra frente, mas eu tenho a absoluta certeza, preciso fazer feliz a única pessoa que realmente importa, porque a vida não permite reprise e no final disso tudo, a pergunta mais importante a ser feita sempre será: Você foi feliz?

Duvido muito, que no leito de morte alguém se preocupe com o dinheiro que ganhou ou deixou de ganhar, com os julgamentos alheios, com a falta de roupas de marca. Mas tenho a certeza que muitos devem se arrepender do amor proibido não vivido, dos abraços não dados, das palavras não ditas. Talvez, seja por isso que eu escreva, por medo de morrer com mil coisas entaladas na garganta.

  • Rayra Zunino

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