Porquê logo, a gente volta.

A gente acorda, lava o rosto, toma um gole de café com pressa, fecha a porta e pega a condução. A gente nem se despede. Por quê a gente sempre acha que logo volta.

A gente não se despede nem da casa, nem dos bichos, nem das pessoas. Por quê logo a gente volta.

A gente faz planos pra mais tarde, pra semana que vira, pro próximo mês, pras férias, quiçá pra aposentadoria, ou só pra quando voltar pra casa. Por quê logo, a gente volta.

O fato é que ninguém que ficou pelo caminho, acordou acreditando que não iria voltar. A gente acorda, deixa um bolo pronto, frutas na fruteira, da comida pro cachorro, coloca água pras plantas e vai viver. Porém, tem vezes que a gente não volta.

E justo nós, que abraçamos o mundo e vivemos vestindo a fantasia de super heróis, daqueles que dão conta de tudo, um dia, não voltamos. As frutas estragam na fruteira, alguém dará comida ao cachorro, alguém regará nossas plantas, alguém comerá o bolo que ficou quentinho quando saímos pela manhã. Por quê a vida é assim, tem vezes em que a gente não volta.

E se parássemos de viver como se fôssemos imortais, talvez, entenderíamos qual a real importância das coisas. Por quê quase sempre, só entendemos o real valor dos pequenos detalhes cotidianos tidos como bobos quando os mesmos deixam de existir.

Tenho pensado muito sobre os dias que seguem sem que possamos voltar, sobre todas as pessoas que se distribuem para cumprir nossas funções e sobre como a vida segue caso não seja mesmo possível chegar, ou até mesmo como as coisas pequenas (e sempre tidas como grandes), nos aguardam com paciência, retornar.

Eu desejo que a gente aprenda a se despedir direito, da casa, do cachorro, das pessoas, e que a gente aprenda o real valor das coisas, desde o café com bolinho quente na mesa da cozinha, ao abraço apertado ao deixar o filho no portão da escola, um banho morno ao fim do dia, cheirinho de roupa lavada, os detalhes do nosso cotidiano, que quase sempre, vão passando despercebidos, até o dia em que a gente não volta.

– Rayra Zunino

Das minhas poucas certezas.

    Talvez, uma das coisas mais corajosas que eu tenha feito nos últimos tempos, foi admitir para eu mesma que sinto sua falta. Sabe o que é? Eu morro de medo de deixar alguém entrar e enxergar toda essa bagunça. Porém, justo eu que vivo gritando aos quatro ventos que os dias são longos, porém os anos.. há esses são muito curtos. Tenho deixado de dizer as coisas que penso e sinto, por quê bem, ainda não entendi o que se passa aqui dentro.

    É que carrego comigo aquela necessidade de estar bem resolvida sobre tudo, e derrepente, bate um medo absurdo de parecer vulnerável. Medo de parecer uma menininha frágil e um pouco boba. Mas sabe o que é, por tanto tempo eu não senti nada, que sentir qualquer coisa me apavora. É que eu sou intensa, nasci assim, e não consigo, nem quero, controlar o que sou.

    Justo eu, que sou tão segura de mim, que encaro tudo com coragem, e que na maior parte do tempo, enfrento tudo e qualquer coisa, quanto algo diz respeito à você, pareço uma menina amedrontada e um tanto insegura, e sinceramente, nem sei o por quê.

    É que de fato, você me fez sentir o que á muito não sentia. Mas vem cá, me deixa te contar uma coisa. Apesar de você, apesar das borboletas no estômago, apesar desse medo absurdo de estar deixando o amor passar, eu ainda assim, me amo mais. Por muito tempo eu entendi que amar o outro até vísceras serem todas expostas, era bonito. Ser intenso, era bonito (e continua sendo). Mas me deixar sangrar por um amor que o outro não soube dar, ah meu bem, não mais comigo.

    Eu aprendi a me amar tanto, á ponto de ir embora. Fechar portas. Encerrar ciclos. Cansei de me quebrar em pedaços tão pequenos, á ponto de não restar o que juntar. Escolher partir, as vezes é a coisa mais bonita que podemos fazer, por nós. Dessa vez, não encerro um ciclo fechando as portas, deixando o coração sangrando, preso em uma gaiola. Dessa vez, eu apenas encostei a porta, sem trancas, nem chaves. Talvez, algum dia, você bata a porta, talvez eu te deixe entrar.

    Agora já não posso mais esperar quem não se decide se fica ou vai, trancando passagem, ocupando espaços. Por que é preferível o vazio por escolha, do que estar lotado de dúvidas.

Rayra Zunino

   

Depois de você.

Eu sei, sou afiada. Uso meu humor ácido como uma forma de proteção, e confesso, no menor sinal de desinteresse, costumo apenas partir, quase sempre, sem fazer alarde. Talvez você só me veja como uma menina imatura. Mas à meu bem, se você soubesse em quantos pedaços já fui quebrada.

Eu sempre fui à favor dos amores, loucos, leves, corajosos e um pouco rebeldes. Sempre repeti há mim mesma, que tudo bem me partir em pedacinhos, depois a gente junta os caquinhos, e segue, só segue. E diria mais, arrisca à se apaixonar novamente.

Mas isso, foi há muito tempo. Um tempo em que eu acreditava que o amor era meio “super bonder”, achava que quando ele chegasse, todos os meus pedacinhos quebrados anteriormente, iriam cicatrizar. Só hoje, depois de me quebrar inteira, a ponto de não conseguir mais carregar tantos cacos de mim, entendi o quão difícil é se deixar amar de novo.

Apesar de ainda querer tanto, me apaixonar novamente, eu morro de medo de me perder tanto por amor, a ponto de esquecer quem sou. E acredite, deveríamos ser encontro, sem jamais se perder de nós mesmos.

Eu voltei a ouvir meus discos favoritos e dançar na sala. Voltei a ler meus livros em silêncio, à meia luz e bebendo um vinho. Voltei a assistir filmes bobos e séries que me arrancam risadas sinceras. Consegui me encontrar em meu guarda roupas, e sei exatamente do que gosto, e o talvez o mais importante, do que não gosto.

Depois de você, já consegui refazer minha lista de lugares favoritos no mundo (e alguns deles, são pessoas). Aprendi a dizer não, encerrar ciclos e o mais importante, aprendi a ir embora quando minha presença deixou de fazer sentido. Aprendi que quem quer, quem realmente quer, sempre, dá um jeito. Tira seus cinco minutos. Lembra de saber como você esta. Para quem você realmente importa, não existe falta de tempo.

Depois de você eu entendi que não sou um simples riacho, sou um oceano inteiro. E como poderia eu, me contentar com poças d’água?

  • Rayra Zunino

Só mais uma sobre amor.

Nos últimos tempos, talvez por descuido, eu venha me contentando com pouco. Mas sabe, em um surto de realidade, me dei conta que não posso mais aceitar migalhas de você. Eu morro de medo de me adaptar e acabar faminta, porque você sabe, o amor tem que ser banquete.

Eu não sei se estou indo na contramão de toda essa nova geração, mas eu quero tanto, mas tanto, enlouquecer de amor, sentir borboletas no estômago, frio na barriga, sabe, todos os clichês dos filmes românticos. Porquê, você ainda não sabe, mas eu sou isso ai, e sinceramente, estou extremamente cansada de mergulhar em poça d’agua.

É que a maioria das pessoas, passa a vida inteira tentando ganhar o mundo, para no fim da vida, perceber que tudo era tão simples. Somos todos um amontoado de sonhos, traumas e medos, mas jamais seriamos quem somos sem passar por todos esses obstáculos.

Eu sempre me pergunto porque sou o caminho mas nunca o destino, talvez eu precise ser meu próprio destino. Ando cansada de ser um porto de cura, onde as pessoas chegam meio quebradas e quando estão inteiras, simplesmente, decidem partir. E eu sempre deixo. Não faço questão de quem não faz questão, porém, não quer dizer que eu não fique em pedacinhos a cada partida.

Eu ando exausta sabe? De ser porto seguro, ser quem segura as pontas, quem sempre e sempre renasce das cinzas. Estou cansada de ser a porra de uma fénix. O que quero mesmo, é não precisar mais renascer, me refazer, me reconstruir. As vezes eu imagino o quão lindo deve ser alguém te amar tanto, a ponto de simplesmente, ficar.

Porque no fundo, o que importa é isso, quem fica quando as cortinas se fecham e o espectáculo acaba. Talvez essa seja uma das coisas mais bonitas da vida, e uma das mais importante. Saber quem vai ficar. Apesar dos pesares.

Sabe, é que eu tenho tudo que eu preciso, mas eu ainda não encontrei esse tal amor enlouquecedor presente nas letras de Cazuza. Porque apesar dos meus trinta e poucos, eu tenho uma alma antiga e cansada, porém inocente e que ainda quer flores, bilhetes escritos á mão, surpresas num dia comum, café com fofoca no fim de tarde, abraços que sejam morada. Tudo tão simples e ao mesmo tempo tão utópico.

  • Rayra Zunino

Inícios e fins.

Eu adoro começos. Eles dão frio na barriga, empolgação e borboletas no estômago. Mas a verdade é que algumas coisas estão fadadas ao fracasso. E talvez sejamos pouco realistas a ponto de nunca estarmos preparados para fechar alguns ciclos.

Eu amo chegadas, amo inícios, amo poder abrir as portas do meu peito e dizer: Entra, só toma cuidado para não tropeçar em toda essa bagunça. Ah, e fica a vontade, a casa é sua. Amo deixar com que as pessoas me conheçam e me descubram. Porque eu amo quem eu sou. Amo quem venho me tornando ao longo desses trinta e poucos anos.

Eu acho que aprendi a amar tudo em mim. Até mesmo as coisas que deveriam ser odiáveis. É que eu vejo tanta beleza no imperfeito sabe? É que é fácil e gostoso amar a imagem que criamos de alguém. Mas pra mim, gostoso mesmo é conseguir amar alguém enxergando todos os seus demônios.

Mas apesar de desejar esse amor bonito e até mesmo um pouco utópico, venho aprendendo a ir embora. Talvez essa seja uma das coisas mais bonitas e difíceis que já precisei fazer por mim. É que quando a gente cresce, enxerga que já não cabe mais em certos espaços. Algumas coisas já não condizem. E infelizmente, algumas pessoas, também não.

Eu sempre achei que por amor a gente fica, mas entendi nos últimos tempos, que por amor, a gente vai. E não falo só de amor próprio. As vezes ficar fere, dói, nos afunda. De um tempo pra cá, sem muitos planos, aprendi a ir embora com o coração sangrando e cheio, porém tão machucado, a ponto de dizer chega, eu não preciso mais me colocar neste lugar.

Talvez, amadurecer seja isso. Entender que alguns ciclos se encerram, para que novos possam ter inicio. Entender que nem sempre quem esta ao seu lado, realmente torce por você. Como as sábias palavras de Renato, tem gente que esta do mesmo lado que você, mas deveria estar do lado de lá. E talvez dizer adeus seja uma das coisas mais dolorosas a se fazer, porém as vezes, tudo que precisamos é sair de cena.

Sabe aquela história de me diga com quem tú andas, que te direi quem és? Ah como faz sentido. Eu quero me cercar de gente que me inspire a ser a minha melhor versão sempre. Gosto de gente que sabe transbordar e que é pura energia gostosa. Porque no fim do dia é isso que a gente quer. Gente gostosa do nosso lado. A vida é tão curta, passa num piscar de olhos, que seja leve, bonita e muito gostosa!

  • Rayra Zunino

Da caixa de rascunhos.

Eu voltei a ouvir minhas músicas antigas, assistir minhas séries, e ler aquele livro pela milésima vez. Eu sei que pra muita gente não faz sentido viver de reprises. Mas é que sinto conforto no que já é familiar, conhecido, de certa forma íntimo.

Porém apesar disso, eu amo surpresas e amo o imprevisível. Eu sei, não faz muito sentido, e convenhamos, não precisa fazer. Nos últimos tempos, tenho dito que talvez estejamos vivendo o fim dos tempos. Eu sei, soa meio apocalíptico. Mas já parou pra pensar, que em algum momento será mesmo o fim dos tempos. Talvez não o fim do mundo, mas o fim da nossa jornada. E confesso que tenho me escorado nisso, para viver tudo aquilo que eu tenho direito.

Um dia desses meu pai apresentou a nova namorada, porém diferente de todas as outras vezes, foi reto, direto, e disse que essa é a pessoa com quem vou envelhecer. Achei exagerado (como quase sempre), um tanto romântico incorrigível e bonito, fiel aos seus sentimentos. Talvez aquele tenha sido um daqueles momentos de devaneios, onde penso, é isso mesmo, a gente não tem mais tempo a perder.

Talvez o segredo para uma vida plena esteja ai, ser fiel ao que sentimos. Entre minhas músicas favoritas e mais tocadas nos últimos dias, ouvi Renato Russo repetir por diversas vezes, tem gente que esta do mesmo lado que você, mas deveria estar do lado de lá. E entre meus devaneios confusos, um tanto de “e se” e um bocado de coragem, entendi que te muita gente que não merece o espaço que ocupa em nossa vida.

– Rayra Zunino

Das coisas que eu queria te contar.

Tem algumas coisas que ninguém te conta sobre o luto. Dizem que o tempo ameniza. Que a gente acostuma com ausência. Eu discordo, ou pelo menos venho aprendendo a discordar. Eu sempre achei que os dias mais importantes seriam os que mais sentiria sua falta, mas que grande balela.

Pois a saudade chegou me arrebentando o peito, justo em uma terça a tarde, quando me dei conta do quanto minha vida mudou e todas as coisas bonitas que vem acontecendo. A gente conversou baixinho e tenho certeza que você me ouviu, mas não pude ouvir sua resposta, por mais que tivesse absoluta certeza de todas as coisas bonitas que me falaria, obviamente, com um tanto de frases engraçadas e piadas que me deixariam brava com você por no mínimo uma hora.

Eu achava que a ausência nos mataria nas festas e eventos importantes, mas não à imaginava chegando de mansinho em um dia comum. Sem grande alardes e sem muitos acontecimentos. São muitas as partes do luto que ninguém te conta. É a saudade arrebatadora de beber um “aparadinho” acompanhado de toucinho do céu. É receber uma ligação num sábado a tarde, ouvindo um apelido carinhoso, confirmando o almoço de domingo.

Ah e por falar em apelido carinhoso. Ninguém vai te chamar igual. Dizem que existe um versão diferente de nós, para cada pessoa que nos conhece. Eu acho que quando alguém que amamos parte, precisamos lidar com a perda de quem se foi, e com a perda de quem nos éramos para essa pessoa. E talvez essa seja a parte mais difícil, pois uma versão de nós mesmos, simplesmente evapora, deixa de existir.

Alguns dias, nessas noites de insônia, abro as conversas arquivadas, só pra ouvir tua voz, rir das tuas piadas e acabar chorando baixinho, pensando, bem, é isso, acabou. O problema é o que a gente faz com o que fica? Eu sei que a vida tem que seguir, que as coisas entram nos trilhos, mas é só isso? Vamos juntando nossos caquinhos e seguindo em frente, mesmo com mil pedaços faltando?

É uma real saudade das coisas que não foram vividas. Dos projetos que ficaram incompletos. Tudo que ficou pra ser dito depois. Do que café que foi desmarcado porque gostaria de estar com a casa pronta. Da reunião de domingo que faltei por briguinhas bobas. De tudo que ficou pela metade e das metades que nunca mais serão completas.

Bem, apesar dos pesares, a partida me ensinou coisas bonitas. Entendi a real importância de tantas coisas. Aprendi que eu sou o personagem principal dessa coisa que chamamos de vida e que ela é curta demais. Estamos aqui emprestados para viver um intervalo. Por isso não perco mais meu tempo com bobagens e julgamentos.

Talvez nem todo mundo vá gostar da minha versão daqui pra frente, mas eu tenho a absoluta certeza, preciso fazer feliz a única pessoa que realmente importa, porque a vida não permite reprise e no final disso tudo, a pergunta mais importante a ser feita sempre será: Você foi feliz?

Duvido muito, que no leito de morte alguém se preocupe com o dinheiro que ganhou ou deixou de ganhar, com os julgamentos alheios, com a falta de roupas de marca. Mas tenho a certeza que muitos devem se arrepender do amor proibido não vivido, dos abraços não dados, das palavras não ditas. Talvez, seja por isso que eu escreva, por medo de morrer com mil coisas entaladas na garganta.

  • Rayra Zunino

Um vulcão adormecido.

Os últimos anos foram bem pesados por aqui. Me levaram muito mais do que trouxeram. Bem, eu diria que por vezes, me viraram do avesso. E não é aquela história bonita em que você se descobre e vê que o avesso é seu lado certo. Nada disso. Por vezes me vi sem chão. Chorando até faltar o ar. Sufocando meu grito no travesseiro. Mas esta história, não é sobre as dores que se tornar adulto nos trás.

Dói sim, não vou negar, mas é bonito. Quando passamos a entender que tudo aqui é instante, aprendemos a viver. Confesso, ainda estou em processo. Mas esse entendimento, ou talvez aceitação, sobre ver a vida como ela é, é bonito e libertador.

Um dia li em algum lugar, que um dia seremos só as lembranças de alguém, e depois, nem isso. Por este motivo entendi que não adianta ser sua melhor versão para o outro, se esta não for a versão que te agrada e te faz feliz. Eu sei que por vezes decepciono pessoas, porém meu objetivo de uns tempos para cá, está em não decepcionar a mim mesmo.

Confesso que no auge dos meus trinta, ainda não entendi muito como esse negócio de vida funciona, e sinceramente, nem quero. Aprendi que precisamos viver um dia de cada vez, afinal, cada dia é um presente, é único, e não tem retorno. As perdas desses últimos anos me ensinaram a me despedir direito, lembrar as pessoas que as amo e ser grata por quem consigo carregar no peito.

Passei metade da vida me culpando por toda minha intensidade. Eu falo demais, sou sincera a ponto de muita vezes ser grosseira, me preocupo com todos que me importo e por vezes isso é pesado. Vivo mergulhando em poça d’água. E me digam como não? Escorpião, ascendente escorpião.

Por vezes desisti de mim. Me calei. Tentei desativar esse vulcão. Pois hoje aprendi a amar com todas as forças a confusão que sou. E eu sei que muita gente irá se assustar e vai querer ir embora, e tudo bem não é? Pois da mesma forma, algum dia, alguém irá chegar e se arriscará á andar nas bordas desse vulcão adormecido.

É que a vida, apesar de vir me batendo bastante nos últimos tempos, ainda assim, não deixou de ser bonita. Ainda espero encontrar alguém que curta meus discos. Goste de domingo de praia. Se arrisque a dançar na chuva. Não tenha medo de parecer ridículo ao meu lado. Acho que escrevo sobre coisas bonitas porque ainda não perdi a esperança de vive-las, e não devo!

-Rayra Zunino

Um dia, ele me encontra.

Sabe, depois de muito tempo, eu fiz as pazes com essa minha mania de sentir demais. Por uns bons anos, achei que seria necessário engolir muitos sentimentos pra não assustar o outro, e por vezes, me diminui pra caber em espaços que não me pertenciam. Confesso, ser como sou, trazia medo. Por muito tempo, molhei os pés mesmo querendo mergulhar de cabeça em alguns sentimentos, por medo de assustar o outro. Medo de ser intensa demais.

Eu sempre gostei dos amores loucos. Perdi a conta de quantas cartas já te escrevi em pensamento, enquanto solto aquele sorrisinho em meio as nossas conversas sem roupa e você me questiona o que foi, e só consigo dizer: Não é nada, só, to bem. Ah se soubesse o que tem por trás do meu nada. Um infinito de tantas coisas absurdas.

Sabe, sempre senti necessidade de colocar pra fora o infinito de coisas que carrego no peito, me parecia bonito transbordar. Bem, nos últimos tempos, descobri que posso carregar essas coisas bonitas sem sair gritando aos quatro ventos sobre elas. É como se eu guardasse toda beleza de ser intensa, e tudo bem.

Em pensamento te escrevo cartas, te faço filhos, coloco um disco na vitrola, que fica na sala da nossa casa nova, bem perto da porta de vidro aberta pro quintal. Onde brincam os cachorros, embaixo de uma mini figueira. Te vejo sentado de costas, tomando uma cervejinha com os pés na grama. Talvez esse seja meu plano pra um domingo perfeito.

O fato é que ainda não encontrei a pessoa para quem escrevo essas cartas, monto esse futuro utópico, crio nossos filhos imaginários, dou nome aos nossos cachorros, e me imagino dançando na sala ao som de um vinil antigo. Mas apesar disso, o nosso futuro já esta todinho desenhado em minha mente, e talvez ele até demore a chegar, mas ainda assim, acredito que virá.

Eu me tornei prática com o passar dos anos, porém, bem lá no fundo, sigo a mesma romântica incorrigível de sempre. Apesar de você, amanhã o amor há de chegar. Já não faço mais questão de procurar. Fiz um acordo com o destino, sigo regando meu jardim, cuidando das minhas borboletas, e aguardando ele me encontrar.

  • Rayra Zunino

Um milhão de pequenas coisas.

Teu beijo com gosto de cigarro. Domingo de sol. Cheiro de protetor solar na tua pele branquinha. Andar descalço na areia da praia, e banho de água salgada no mar gelado. Deitar no teu peito, sentir o teu cheiro (e que cheiro viciante). Falar e falar e falar por horas á fio sobre todos os assuntos do universo. E só se fazer presente. Nada além. Porque isso me basta.

A verdade é que eu tenho medo, medo de não te bastar. Não é que eu tenha te colocado num pedestal, nem nada do tipo. É que sinto que mesmo depois de tantos anos, mesmo me sentindo pós graduado em você, eu ainda tenho um universo inteiro de ti para conhecer.

E cada pedacinho que descubro, só me fascina mais. Até mesmo os que me assustam. Eu não tenho vontade de ir embora. Nunca tive. Acho que nunca vou ter. Porque é você. E isso me apavora. Você é diferente de tudo o que eu pude experimentar até aqui. E sinceramente, não quero experimentar mais nada após nós.

Eu sei de todos teus demônios. E confesso, não sei lidar com eles. Mas não quero que deixe-me ir por conta disso. Apesar de não parecer, eu sei esperar (porém não gosto). Eu sei que passo essa visão de imediatista. É que eu mergulho em pires. Sou emocionada e não tento esconder isso do mundo. Mas eu também sei bem quais são as coisas que valem a espera. Afinal, a gente já esperou tanto tempo.

É que você sabe, eu sonho com um tipo de amor que ainda não encontrei. Leve, tranquilo, seguro. Talvez, você seja tudo o que eu venho buscando a vida inteira, ou talvez, não seja nada disso. O fato é que eu já estou quebrada à tanto tempo, que não me importaria em arriscar mais uma vez, por nós.

É que nos últimos sei lá quantos anos, nós sentamos e assistimos gente entrando e saindo da vida um do outro e não fizemos nada quanto à isso. E eu não quero deixar que a gente seja só isso. Um eterno talvez pra todo sempre. Talvez, esse seja um texto que vá terminar sem um fim, talvez daqui uns anos eu volte aqui e conte o restante dessa história para vocês. No momento, seguirei, carregando esse um milhão de pequenas coisas peito à dentro, na esperança que em algum momento você esteja pronto pra se arriscar nessa jornada tão louca ao meu lado.

  • Rayra Zunino